Inteligência Aumentada: A Nova Era - Parte 1

Publicado em 24 de Novembro de 2017, por Rodolfo Cover De Santi.


Tempo estimado de leitura: 8 minutos

Imagine que entramos em uma máquina do tempo e viajamos de volta para algum lugar entre os anos 1600 e 1700 (séculos 17 e 18). Então você aborda uma pessoa daquela época e conta para ela como são as coisas no século 21.

Na idade média não havia água encanada, muito menos saneamento básico, e claro, não havia os meios de transporte que temos hoje. A energia elétrica estava sendo descoberta mas ninguém sonhava para que ela serviria ainda, muito menos sobre as possibilidades das telecomunicações. Sorte nossa se o aldeão  achar que somos apenas loucos e não bruxos :)

Muito provavelmente aquela pessoa não compreenderia absolutamente nada, então, resolvemos trazê-la para o nosso tempo, para que ela veja por si mesma as maravilhas do futuro. Mesmo assim a pessoa do século 17 teria dificuldade para compreender nosso mundo, pois, para ela as coisas mais triviais do dia a dia do século 21 não fariam o menor sentido. As referências dessa pessoa são as do mundo de 1600. Caso ela não consiga se adaptar é bem provável que ela sofra um surto psicótico.

Porém, se o mesmo aldeão fosse transportado para o século 13 (mesma diferença entre 17 e 21) ele talvez mal percebesse a diferença. Da mesma forma, se levássemos uma pessoa do século 13 para o século 17, essa também não perceberia muitas mudanças e não correria nenhum risco de ter um surto psicótico.

Ray Kurzweil é um dos mais aclamados futuristas de nosso tempo. Em seu livro “The Singularity Is Near: When Humans Transcend Biology” publicado em 2005, ele descreve que a evolução da tecnologia exponencializa a velocidade das descobertas científicas e, claro, da própria tecnologia. Ele chama esse efeito de “Lei do Retorno Acelerado” (Law of Accelerating Returns). Segundo Kurzweil,  o progresso científico e tecnológico entre 2001 e 2021 será igual a todo o progresso que foi feito no século 20, e que, a partir do ano 2021, essa taxa aumentará cada vez mais, de forma que até o final deste século teremos produzido 1.000 vezes o que o século 20 produziu de inovações tecnológicas.

Se Kurzweil estiver certo (e muita gente acredita que ele está), se chegasse aqui em 2017 uma pessoa do futuro e nos levasse para o ano 2050, teríamos, com certeza, um surto psicótico.

O antropólogo e historiador israelense, Yuval Noah Harari, em seus últimos livros, Homo Sapiens - Uma breve história da humanidade, publicado em 2011, e Homo Deus - Uma breve história do amanhã, de 2015, ressalta as transformações provocadas pelos seres humanos (Sapiens) na história e nesta nova era.

Por 300 mil anos os Sapiens foram nômades, caçadores e coletores, depois, passaram a se estabelecer e a cultivar vegetais e pastorear animais, o que hoje conhecemos como o início da Revolução Agrícola. A Era Agrícola durou 12.500 anos, até o final do século 18, quando irrompeu a Revolução Industrial onde a mecanização movida a vapor e mais tarde à eletricidade transformaram o cenário, o meio ambiente, a economia, a política e todos os aspectos da vida. Essas várias transições disruptivas foram provocadas pela introdução de tecnologias, em forma de ferramentas que ampliavam a capacidade do Ser Humano.

Harari descreve em seu livro “Sapiens” que isso começou há cerca de 70.000 anos, quando os Sapiens passaram por uma revolução cognitiva, que lhes deu vantagem sobre outros grupos, como os Neandertais. Os Sapiens eram indivíduos que conseguiam aprender rápido, que se comunicavam com mais flexibilidade, viabilizando uma cultura de colaboração. Eles desenvolveram ferramentas e armas mais eficientes do que outros grupos o que ampliou muito o sucesso nas caçadas de grandes animais, proporcionando fartura e prosperidade para suas comunidades. Se você está lendo isto, você deve sua vida a um grupo de homo-sapiens que “resolveram” romper com a dependência biológica e mudar as coisas como eram. A mesma sorte não tiveram os Neandertais que foram extintos por não terem a vantagem cognitiva dos Sapiens.

O final da Era nômade caçador-coletor foi marcada pela extinção dos outros grupos, assim como as demais ondas foram marcadas pela extinção de paradigmas. Todas elas embaladas por protestos e revoltas, pelo preconceito popular, a má vontade das autoridades, a invídia, e os interesses estabelecidos dos grupos privilegiados. Mas, no final, a tecnologia sempre vence, sempre rompe com os velhos costumes tradicionais e com as normas estabelecidas.

Hoje, estamos vivendo em uma época fronteiriça entre uma era pós-industrializada marcada por convergências tecnológicas, e uma nova Era já intitulada de Inteligência Aumentada. Estamos bem próximos de uma revolução que irá impor paradigmas capazes de transformar totalmente o mundo como o conhecemos na fração de 50 anos.

Mas o que são 50 anos? O iPhone foi lançado há 10 anos (2007). A internet no Brasil já tem 26 anos (1991) e Os Simpsons estão há 28 anos no ar (1989). No Brasil o primeiro PC chegou em 1980, há 37 anos. O homem pisou na lua há 48 anos (1969).  Nós percebemos os fatos de forma linear no tempo, provavelmente se você tentar prever o futuro daqui 30 anos, você irá pegar referências de 30 anos atrás até hoje. Porém, segundo Kurzweil, a evolução da tecnologia passou a ocorrer de forma exponencial. As mudanças no futuro ocorrerão em um ritmo cada vez mais acelerado.

A Era da Inteligência Aumentada será impulsionada pela evolução das seguintes áreas: Inteligência Artificial, Smart Infrastructures, Health Tech e Experience Design.

 

Com o advento da Computação Quântica, a capacidade de processamento e a sofisticação de algoritmos que aprendem sozinhos (machine learning) será ampliada de tal forma que, entre 2025 e 2030, atingiremos a Singularidade. Um momento em que computadores terão a mesma capacidade de processamento do cérebro humano, no que diz respeito às habilidades de intuir e aprender, criar e inferir. Quando a Singularidade acontecer, a humanidade terá outro salto cognitivo, tal como aquele que ocorreu há mais de 300 mil anos e que foi o causador da supremacia dos Sapiens sobre os Neandertais. Resta saber se as máquinas super inteligentes serão as nossas ferramentas ou se elas serão nós.

Bibliografia da Parte 1

RAYMOND, Kurzweil. The Singularity Is Near: When Humans Transcend Biology - Ray Kurzweil. 1. ed. EUA: Viking Penguin, 2005. 652 p.

RAYMOND, Kurzweil. The Age of Spiritual Machines. 1. ed. EUA: Viking Press, 1999. 400 p.

RAYMOND, Kurzweil. How to Create a Mind: The Secret of Human Thought Revealed. 1. ed. EUA: Viking Penguin, 2012. 352 p. v. 1.

HARARI, Yuval Noah. Sapiens: Uma Breve História da Humanidade. 1. ed. Israel: Harper, 2011. 443 p. v. 1.

HARARI, Yuval Noah. Homo Deus: A Brief History of Tomorrow. 1. ed. Israel: Harvill Secker, 2015. 448 p. v. 1.

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